Categoria: Diálogo marxismo-cristianismo

Esta categoria é destinada a examinar de perto a teoria marxista, original, atual, ortodoxa ou heterodoxa, tendo em mente a declaração do papa Bento XVI:

Hoje é evidente que a ideologia marxista, tal como era concebida, já não corresponde à realidade: deste modo já não se pode responder e construir uma sociedade; devem ser encontrados novos modelos, com paciência e de forma construtiva. Neste processo, que exige paciência mas também decisão, queremos ajudar em espírito de diálogo, para evitar traumas e ajudar no caminho rumo a uma sociedade fraterna e justa como a desejamos para todo o mundo e pretendemos colaborar neste sentido.

Ao contrário do que muitos interpretaram, falsamente tomando parte de uma inexistente “ortodoxia marxista”, trata-se de um chamamento ao diálogo. Eu como cristão e católico, decidi promovê-lo com meus parcos recursos – mas como conhecedor de ambas as doutrinas, a marxista e a cristã.

A doutrina social da Igreja não é capitalista, como muitos imaginam, tampouco é marxista. Tenciona criar uma sociedade nova, sobre novas bases, fraternas como a doutrina cristã. Não ignora a influência do material sobre o homem, mas acrescenta uma moral centrada no homem como criatura divina, material e espiritual.

Claro está que não se trata aqui de obrigar ateus a uma falsa conversão, nem de obrigar cristãos a concordarem com a essência do marxismo. Ao contrário, trata-se de criar o diálogo entre uma e outra doutrinas. O marxismo é muito proveitoso como instrumento de interpretação histórica e social. O cristianismo, com seu antropocentrismo (que muitos ateus nem conhecem), nos fornece uma ideologia de libertação do homem de toda opressão material, inclusive da desumana exploração do trabalho, presente nas atuais relações sociais.

Este é um convite ao diálogo proposto pelo papa. Se, como disse João Paulo p.p. II, “Cuba precisa se abrir para o mundo, e o mundo precisa se abrir para Cuba”, igualmente o marxismo precisa se abrir para o cristianismo, e o cristianismo precisa se abrir para o marxismo. Isto só poderá ser feito com base na razão, não em preconceitos. Uma e outra partes tirarão proveito desse diálogo e se aproximarão. Basta agir de boa vontade.

Aos marxistas, que me lerão e muitas vezes me criticarão, uma palavra final: “tal como era originalmente concebida”, a doutrina marxista não conhecia questões importantes hoje em dia, como o imperialismo, que se desenvolveu após a morte de Marx e foi teorizado por Lênin. Tampouco conhecia a experiência soviética e seus defeitos. Por outro lado, a fraternidade cristã poderia ter evitado até mesmo a ascensão do grupo de Khruchëv, o sanguinário. Quem sabe, se naquela época isso fosse concebível, o Stálin seminarista não teria cedido a ele. Faltou humanidade ao que deveria ser uma doutrina humana. Isto é certamente parte dos múltiplos fatores que determinaram a queda do socialismo em toda a Europa, colocando tal doutrina em crise. O marxismo pode superá-la transformando-se, e o convite do papa trata disto.