A vida do cristão

Nesse tempo de quaresma, somos convidados à conversão, isto é, a volvermo-nos para Deus e orientarmo-nos segundo ele. Nesse sentido são interessantes as leituras das horas canônicas para hoje. Nas laudes (pela manhã):

Vós vistes o que fiz aos egípcios, e como vos levei sobre asas de águia e vos trouxe a mim. Portanto, se ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, sereis para mim a porção escolhida dentre todos os povos, porque minha é toda a terra. E vós sereis para mim um reino de sacerdotes e uma nação santa. (Ex 19,4-6a)

Nas vésperas (no fim da tarde):

Pela misericórdia de Deus, eu vos exorto, irmãos, a vos oferecerdes em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual. Não vos conformeis com o mundo, mas transformai-vos, renovando vossa maneira de pensar e de julgar, para que possais distinguir o que é da vontade de Deus, isto é, o que é bom, o que lhe agrada, o que é perfeito. (Rm 12,1s)

Na primeira leitura, temos uma recordação da eleição de Israel dentre todas as nações, para que seja a ligação entre Deus e a humanidade. Israel foi tirado do Egito, como que pinçado e transposto para a terra prometida, onde deveria permanecer pela eternidade, com a única condição de seguir a Aliança que Deus lhe ofereceu. Essa Aliança, esse tratado entre Deus e seu povo, era praticamente unilateral: Deus ofereceu o território, a soberania, a justiça e o direito; Israel apenas deveria aceitar, tornando-se assim a referência para todas as nações.

Eis o que vai acontecer no fim dos tempos,
que o monte onde está a casa do Senhor
será erguido muito acima de outros montes,
e elevado bem mais alto que as colinas.

Para ele acorrerão todas as gentes,
muitos povos chegarão ali dizendo:
“Vinde, subamos a montanha do Senhor,
vamos à casa do Senhor Deus de Israel,

para que ele nos ensine seus caminhos,
e trilhemos todos nós suas veredas.
Pois de Sião a sua Lei há de sair,
Jerusalém espalhará sua Palavra”.

Será ele o Juiz entre as nações
e o árbitro de povos numerosos.
Das espadas farão relhas de arado
e das lanças forjarão as suas foices.

Uma nação não se armará mais contra a outra,
nem haverão de exercitar-se para a guerra.
Vinde, ó casa de Jacó, vinde, achegai-vos,
caminhemos sob a luz de nosso Deus! (Is 2,2-5)

Essa é a Aliança oferecida por Deus à casa de Jacó, Israel. Bastava aceitar o que Deus lhe entregava, e Deus lhe entregava tudo. Agir em conformidade com a aliança era o que bastava para reinar por todo o sempre sobre a terra da promessa. Para que todas as nações não mais guerreassem, mas se dirigissem a Israel e a seu Deus.

Mas, Israel não agiu conforme o direito e a justiça que Deus lhes entregou, não realizou o “sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”, o “culto espiritual”. Por sua dureza de coração, quando o Filho do Deus Vivo, Jesus Cristo, veio ao mundo, para os que eram seus, não foi recebido. Contudo, os que o receberam, estes foram transformados em filhos de Deus (Jo 1,11s), transfigurados com Jesus Cristo e nele moldados. Não nasceram mais do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus (Jo 1,13). Assim, não estão mais sujeitos à carne ou a homem, mas a Deus. Devem distinguir o que é bom, o que agrada a Deus, o que é perfeito – isto é, a vontade de Deus – e agir em conformidade. Deus nos retirou dentre os pecadores, e nos fez uma Igreja, uma nação santa, um reino de sacerdotes para que o império de sua vontade se espalhe sobre toda a terra. Assim ajamos. Amém.